O Dia em que um Pote de Arroz me Fez Chorar

Oito anos esperando por uma frase de duas palavras. Esta é a história de uma mãe que aprendeu que o amor também fala — mesmo quando o mundo insiste no silêncio. Se foi possível para mim, também é para você.

Fabiana Pereira

2/5/20252 min read

Oito anos.
Esse foi o tempo que esperei para ouvir duas palavras simples:

“Mommy eat.” (mamãe comer)

Minha filha, Manuela, tem oito anos, autista + TDAH não verbal (suporte 3).
Para a maioria das famílias, pedir comida é algo banal.
Para nós, é um milagre.

Naquele dia, ela tocou meu braço, olhou nos meus olhos e disse:

“Mamãe comer.”

Por um segundo, fiquei paralisada.
Ela já havia almoçado cerca de uma hora antes, talvez não estivesse com fome.
Mas, em vez de desistir, Manuela foi até a geladeira, pegou a panela de arroz e me entregou nas mãos.
Sem confusão, sem hesitar, ela sabia exatamente o que queria.
E, naquele instante, eu também soube.

Ela não estava apenas pedindo mais comida.
Ela estava me mostrando o quanto havia evoluído.
Quanto esforço é necessário para transformar um pensamento em palavra.
E como cada som que ela pronuncia é uma vitória conquistada com paciência, terapia e amor.

E com pequenas estratégias que aplico todos os dias.
Em nossa casa, as palavras moram nas paredes: cartões com imagens e nomes de objetos espalhados pelos cômodos.
Uso também os cartões PECS e, sempre que percebo que ela quer algo,como quando me entrega a garrafa de água, eu traduzo o gesto em palavras:
“Ok, entendi. Água. Sede. Você está com sede e quer beber água.”
Assim, cada interação vira uma oportunidade de aprendizado.
Sem pressão. Sem cobrança. Apenas presença e repetição.

As lágrimas vieram.
Não apenas de alegria, mas também de uma tristeza suave.
Porque aquilo que é normal para tantas famílias é extraordinário para nós.
Foram oito anos de espera condensados em uma frase.

Aquele momento me ensinou algo profundo:
Precisamos celebrar cada pequeno passo, por menor que pareça.
É fácil se perder pensando no que ainda falta, mas são os pequenos avanços que mostram o quanto já caminhamos.

Para muitas crianças, falar é natural.
Para Manuela, cada palavra é um milagre.
E todo milagre merece ser celebrado.

Hoje, celebro com lágrimas, gratidão e amor.
Porque o progresso pode ser lento, mas é real.
E isso já é motivo suficiente para continuar.

E você?

Qual foi a última pequena vitória que você celebrou?

Lembre-se que o progresso tem o ritmo do amor, não do relógio.
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